terça-feira, 13 de novembro de 2007

Uma questão de timing


É usual falarmos de timing para quase todas as coisas na vida. O timing certo, a altura exacta. No fundo, trata-se de um momento tão decisivo que, numa questão de segundos, pode mudar a nossa vida e, quem sabe, para sempre. É assim que me refiro à mudança profissional, ao corte com tudo aquilo que está estruturalmente instituído e que nos confere segurança e certezas quando na realidade nada é definitivo na vida.


Aos 36 anos de idade e depois de estar nove anos ligada a uma empresa onde cresci como profissional na área da Comunicação e Relações Públicas senti que era o timing certo para fazer o “click profissional” e partir para um desafio futuro. Não foi fácil, confesso. Há que ter em atenção muitos factores inerentes à mudança, principalmente numa altura em que consideramos que o nosso currículo profissional é, de facto, a nossa grande mais-valia e o nosso trunfo para a mudança. Há que definir muito bem a nossa estratégia de actuação perante um mercado cada vez mais competitivo e fortemente marcado por profissionais mais jovens e com um potencial invejável. É aqui que o factor idade entra e que “pesa”.


Na realidade e nos dias que correm, ser-se mulher aos 36 anos de idade e querer mudar de emprego pode, em termos práticos, levantar algumas questões mais exigentes para a entidade empregadora. Na verdade e importante do que as qualificações profissionais que podemos exibir num CV são as nossas decisões e projectos pessoais, aquelas que se prendem com a nossa vida familiar e com a aposta que nela pretendemos fazer. Tal como se costuma dizer, nesta idade é importante saber o que está primeiro, se a aposta na carreira profissional ou na vida familiar e tudo porque a idade dita os limites da mudança.


Durante esta fase de procura de um novo emprego e do desejo de mudança senti “na pele” uma situação curiosa que afecta cada vez mais as mulheres nesta faixa etária a que me refiro e que, em termos práticos, pretendem mudar de emprego e apostam na progressão de carreira, sem descorar a vida pessoal. No meu caso pessoal, senti que a parcela mais importante para as empresas que me foram entrevistando não era apenas experiência profissional que reunia nestes anos de trabalho, mas sim, a actual situação pessoal. O facto de ser casada ou pensar fazê-lo e o facto de ter filhos ou pensar tê-los, a curto ou médio prazo, foi algo sobre o qual senti pressão e que me levou a concluir que há momentos certos e timings quase que definidos para se proceder a uma mudança profissional. E este foi o meu.


É por isso e que na primeira pessoa gostaria de passar este testemunho pessoal a quem vive agarrados a anos e anos numa mesma empresa acreditando que o seu percurso profissional cessa ali, com medo da mudança e do desconhecido. Nada na vida é definitivo e a verdade é que em menos de 6 meses a minha vida profissional e pessoal deu uma volta de 360º, o que não aconteceria mantivesse a mesma postura de sempre. Medo? Todos temos. Mas, oportunidades na vida há realmente muito poucas.


Publicado na edição de Novembro da Revista Marketeer.

2 comentários:

Veruska disse...

Carlota,

Tens toda a razão, existem realmente timings na vida para tudo
quer para mudanças profissionais, quer para mudanças pessoais.às vezes temos muito medo da mudança e de todas as consequências que isso acarreta e por isso recuamos, mas outras vezes conseguimos discernir que as mudanças trazem coisas muito positivas.

Asim é que é falar amiga!

SoFia disse...

A minha vida profissional tem sido de certa forma idêntico ao da minha grande amiga Carla. Saí da Universidade, estagiei sem remuneração durante 6 meses no INE, fui para uma agencia de comunicação onde fiquei cerca de 2 anos. Ao finald esse tempo decidi arriscar e mudar para uma outra agencia dita "maior" onde muito aprendi e onde desenvolvi as minhas bases profissionais mais viradas para as tecnologias de informação. Nesta empresa fiquei oito anos, durante os quais aprendi muito, tive muitos sucessos e também errei muito. Isto levou a que nos ultimos 2 anos sentisse-me desmotivada. Porquê? Porque senti-me uma passageira de um "comboio" a olhar pela janela e a ver a vida passar. Sem me sentir crescer, antes pelo contrario, a sentir-me regredir. Tentei alterar a situação tirando um MBA. Mas tirei-o e a sensação manteve-se. Tentei prender a minha motivação ao animo, relacionamento e satisfação que via da parte dos meus clientes mas não era de facto suficiente. Paralelamente a minha vida pessoal asemelhava-se a esse comboio onde eu era uma passageira passiva e que assistia à passagem das paragens sem por nenhuma optar. Fiz um balanço, pessoal, profissional e a minha vida mudou em 360º. Nao foi planeado propriamente nem coordenado com a minha grande amiga Carla, mas coincidente. Este ano mudei de emprego para uma agencia de comunicação igualmente "grande" onde curiosamente em seis meses, estabeleci importantes e fortes laços de amizade e profissionais e onde aprendi muito ainda. Foi um desafio e ainda o seria não fosse o destino bater-me à porta e de certa forma "premiar" a minha atitude e arrojo com uma nova possibilidade de mudança para o que eu de facto pretendia: para uma empresa de TI onde desempenharei o desafio da comunicação desta vez associado ao marketing. Crescerei muito - espero - e farei tudo para aprender e desempenhar um bom papel cumprindo na medida do que me for possivel as expectativas que em mim guardam - se não mesmo tudo fazendo para as superar. E é assim, tenho 34 anos, o destino e as minhas opções (e mau feitio de acordo com as "más linguas") quis que eu mudasse de vida como reza a musica. Hoje, passados 9 anos de viagem num comboio sem destino, sai numa paragem e optei pela mudança! 2ªFeira inicio novas funções e desempenharei um novo papel no comboio que decidi apanhar! Hoje, olho da janela mas da minha casa, para o jardim e sinto-me bem...saio, converso, mas sinto-me bem porque acima de tudo opto, decido, arrisco, luto e confio - penso positivo e faço para que as "coisas" aconteçam! :-)